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Porque não desisto - Ricardo Gondim
Vez por outra, penso em desaparecer, sumir do mapa. Chegar no aeroporto, pegar o primeiro vôo para o destino mais longe e, depois, seguir de ônibus até um vilarejo no alto de uma montanha. E lá, começar tudo de novo. Com certeza, meus detratores perguntam com um sorriso mal disfarçado: “E por que ainda não fez”?
Porque preciso varrer, lavar, engomar, podar. Ainda não escrevi o meu melhor poema, ainda não arrumei a bagunça das minhas reflexões, ainda não apreendi a profundidade da obra de Bach, ainda não corri a próxima maratona ainda não li toda a obra de Shakespeare.
Porque não ensurdeci para o lamento da criança presa ao trabalho escravo no Ceará. Porque não me conformo com as cruzes anônimas diante das covas rasas no Capão Redondo em São Paulo. Porque muita mentira me rodeia. Porque acumulo angústia e não durmo direito. Porque longe, eu me sentiria um traste. Porque não posso me omitir da arena da vida.
Porque não me conformo com as penitenciárias que pretendem passar como casas de recuperação para adolescentes. Porque enquanto um menino for torturado, minha história se enrasca. Como fugir, se as florestas da Amazônia ardem? Como sumir, se meninas se prostituem nas estradas federais? Porque eu carregaria no peito o olhar do ancião que hoje tentou vender balas no sinal de trânsito. Para onde ir?
Porque ainda não consegui responder ao dever humano. Caso me encapsule, crio calos. Caso me proteja, anestesio a alma. Sou complacente demais para tentar evadir, covarde demais para não querer ficar, cínico demais para não me re-significar. Porque tenho de me re-matricular na escola onde se formam heróis. Porque sem provar o gosto do fel, permanecerei um sobrevivente desencarnado. Como escapar para longe, se vivo confortável, com pouco suor na camisa? Porque a perplexidade dos náufragos e a impotência dos enfermeiros de asilo de doido, ainda não me levaram ao choro.
Porque eu tenho certeza que o cuco de qualquer relógio me lembraria que evitei olhar para a minha tibieza. Porque sem me angustiar, eu vegetaria. Porque sem as olheiras da insônia, eu não passaria de um arquivo empoeirado. Porque sem me contorcer com o martelar injusto dos tribunais, eu me condenaria ao inferno.
Sim, já pensei em desistir, mas aos trancos e barrancos vou perseverar.
Soli Deo Gloria

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